Ela se despediu de Caio ainda insatisfeita. Gostaria de resolver todos os seus problemas de uma só vez, para ela tudo podia ser resolvido quando compartilhado. Se enganara entre o apoio e o ombro amigo. Deitou-se e começou a pensar o que sentia pelas pessoas, o que queria delas ou se queria. Levantou-se , olhou para o espelho e percebeu que precisava dormir um pouco mais. Suas olheiras estavam a pedir.
O telefone não parava de tocar , parecia implorar. Lia levantou e foi correndo atender . Era Caio - Lia? Te acordei? - Não, me despertou - disse ela. - Bem , vem aqui, meus pais viajaram e ficam esse final de semana fora. - respondeu com o entusiasmo de um mundo inteiro. - Olha , eu vou tentar. Me espera que até a noite eu te dou uma resposta. - Lia olhou para o telefone indecisa e resolveu fazer um café.
Gostava de Caio, se sentia confortável perto dele e conseguia pensar em um futuro. Esse era seu maior problema : Pensar em um futuro. As causas e circunstâncias sempre presentes tornavam sua cabeça cada vez mais confusa.
Queria mudar. Queria realizar o que tanto pensava e tinha alguém do seu lado, só não sabia se queria alguém. Em todo o seu caminho , andava de mãos dadas com suas escolhas.
As 21:00 apareceu na casa de Caio de mala e cuia, levou umas roupas e calças simples. Apenas queria sentir a presença do seu melhor sentimento.
Caio colocou um filme e deixou rolar. Ninguém o assistia, apenas fingiam . Lia não aguentou. Virou-se para caio e começou a chorar e a se desculpar por tantas coisas pequenas, porém não queria mais estar ali, não com ele. Tinha certeza do afeto, mas não do açucar. Sua pele ainda não arrepiava . Foi embora .
Passou a madrugada escrevendo, seus dedos se esvaiam em palavras e cada palavra doía mais que um beliscão de unha. Escreveu o que sentia e deixou uma carta pro mundo.
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Já saindo do aeroporto, Lia sentiu um medo escorrido em seus pêlos . Londres, era grande o bastante para desvendar , porém também para se perder. Foi para o apartamento que alugou e já arrumou tudo. Queria se sentir em casa. Entrou para um curso de Cinema para estrangeiros depois de se encantar com " A liberdade é azul" .
Terminou de arrumar suas coisas e foi conhecer seu novo mundo. Encontrou todas as coisas lindas que ela sempre imaginara . Estranhou. Estava só, mas não queria pensar nisso . No outro dia ia começar o curso e muitas coisas interessantes estariam ao seu redor. Era o que imaginava.
Muitas pessoas se cumprimentavam, parecia todos conhecidos , isso era um pouco ameaçador. O professor se mostrava bastante amigável e receptivo. Ela decidiu falar com ele. - Olá ! Sou do Brasil e adorei a proposta desse curso - Ele a olhou como se a conhecesse . - Você me lembra a Audrey Tautou , delicada e com um ar de bravura.
Essas palavras mexeram com ela. Não conseguia tirar seu professor da cabeça.
Um dia o enviou um e-mail escrito : " Decidi sair do curso por questões pessoais. Estou dando uma festa no próximo sábado , apareça e por favor chame o pessoal do curso. Vocês são meus únicos convidados."
No sábado ele apareceu, apenas. Junto com um vinho e rosas. Bem à moda antiga, deu-lhe um beijo e um abraço . Lia estranhou a falta dos outros alunos , mas quis arriscar a presença dele. Ela serviu o jantar , um macarrão com cara de " não tive tempo e nem malemolência para fazê-lo" e beberam o vinho.
Conversavam , riam, se abraçaram , se beijaram e se amaram.
Ela não se sentiu satisfeita. Acordou, sentiu um vazio, precisava que alguém a sacudisse. Respirou fundo e disse ao professor : - É como se fosse minha pele saindo de mim...
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- É isso Caio é como se fosse minha pele saindo de mim! Uma sensação de estar exposta. Eu gosto, é o que eu quero. Vamos para Londres?. - E partiu indecisa.