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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

um único episódio ilusório.

- É como se fosse minha pele saindo de mim. - Disse Lia, enquanto explicava seus sentimentos tão inexatos. - Tudo se esvaindo como muitos de seus cílios. Já nem lembro quantas vezes fizemos desejos através deles.
Ela se despediu de Caio ainda insatisfeita. Gostaria de resolver todos os seus problemas de uma só vez, para ela tudo podia ser resolvido quando compartilhado. Se enganara entre o apoio e o ombro amigo. Deitou-se e começou a pensar o que sentia pelas pessoas, o que queria delas ou se queria. Levantou-se , olhou para o espelho e percebeu que precisava dormir um pouco mais. Suas olheiras estavam a pedir.
O telefone não parava de tocar , parecia implorar. Lia levantou e foi correndo atender . Era Caio - Lia? Te acordei? - Não, me despertou - disse ela. - Bem , vem aqui, meus pais viajaram e ficam esse final de semana fora. - respondeu com o entusiasmo de um mundo inteiro. - Olha , eu vou tentar. Me espera que até a noite eu te dou uma resposta. - Lia olhou para o telefone indecisa e resolveu fazer um café.
Gostava de Caio, se sentia confortável perto dele e conseguia pensar em um futuro. Esse era seu maior problema : Pensar em um futuro. As causas e circunstâncias sempre presentes tornavam sua cabeça cada vez mais confusa.
Queria mudar. Queria realizar o que tanto pensava e tinha alguém do seu lado, só não sabia se queria alguém. Em todo o seu caminho , andava de mãos dadas com suas escolhas.
As 21:00 apareceu na casa de Caio de mala e cuia, levou umas roupas e calças simples. Apenas queria sentir a presença do seu melhor sentimento.
Caio colocou um filme e deixou rolar. Ninguém o assistia, apenas fingiam . Lia não aguentou. Virou-se para caio e começou a chorar e a se desculpar por tantas coisas pequenas, porém não queria mais estar ali, não com ele. Tinha certeza do afeto, mas não do açucar. Sua pele ainda não arrepiava . Foi embora .
Passou a madrugada escrevendo, seus dedos se esvaiam em palavras e cada palavra doía mais que um beliscão de unha. Escreveu o que sentia e deixou uma carta pro mundo.
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Já saindo do aeroporto, Lia sentiu um medo escorrido em seus pêlos . Londres, era grande o bastante para desvendar , porém também para se perder. Foi para o apartamento que alugou e já arrumou tudo. Queria se sentir em casa. Entrou para um curso de Cinema para estrangeiros depois de se encantar com " A liberdade é azul" .
Terminou de arrumar suas coisas e foi conhecer seu novo mundo. Encontrou todas as coisas lindas que ela sempre imaginara . Estranhou. Estava só, mas não queria pensar nisso . No outro dia ia começar o curso e muitas coisas interessantes estariam ao seu redor. Era o que imaginava.
Muitas pessoas se cumprimentavam, parecia todos conhecidos , isso era um pouco ameaçador. O professor se mostrava bastante amigável e receptivo. Ela decidiu falar com ele. - Olá ! Sou do Brasil e adorei a proposta desse curso - Ele a olhou como se a conhecesse . - Você me lembra a Audrey Tautou , delicada e com um ar de bravura.
Essas palavras mexeram com ela. Não conseguia tirar seu professor da cabeça.
Um dia o enviou um e-mail escrito : " Decidi sair do curso por questões pessoais. Estou dando uma festa no próximo sábado , apareça e por favor chame o pessoal do curso. Vocês são meus únicos convidados."
No sábado ele apareceu, apenas. Junto com um vinho e rosas. Bem à moda antiga, deu-lhe um beijo e um abraço . Lia estranhou a falta dos outros alunos , mas quis arriscar a presença dele. Ela serviu o jantar , um macarrão com cara de " não tive tempo e nem malemolência para fazê-lo" e beberam o vinho.
Conversavam , riam, se abraçaram , se beijaram e se amaram.
Ela não se sentiu satisfeita. Acordou, sentiu um vazio, precisava que alguém a sacudisse. Respirou fundo e disse ao professor : - É como se fosse minha pele saindo de mim...
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- É isso Caio é como se fosse minha pele saindo de mim! Uma sensação de estar exposta. Eu gosto, é o que eu quero. Vamos para Londres?. - E partiu indecisa.

2 comentários:

Igor disse...

Gostei, é assim que muita gente se sente...
sempre a procura de algo que desconhece e sempre faminto, muito legal.

Daniel disse...

Amor não é só uma idéia mamífera abstrata associada a um imperativo biológico, é um rio fluindo e espalhando reações químicas pelas margens da alma. Cuidar dos sentimentos é colocá-los em um barco ao sereno, sob a luz do luar - vai, deixa ir, deixa estar...